Discutindo o racismo texto 3 – Nosso cabelo não é ruim, duro ou Bombril – ou o preconceito nas escolas.
Em alguma escola desse pais, poderia ser em qualquer lugar
do Brasil, em qualquer cidade, em uma escola pública ou privada, em qualquer
época... Uma professora teve a brilhante ideia de decorar um desenho de um
boneco com pedaços de esponja de aço... A intenção era das melhores... sem
dúvida. Desdobramento didático de um livro infantil “o Cabelo de lelé” que
busca falar da beleza do cabelo crespo (apensar de não tão bem, mas isso é
assunto pra outro texto).
Poderia ser em qualquer lugar, mas aconteceu em uma escola
da periferia de São Paulo em pleno 2017. A professora, inocente... não viu nada
de errado, e ainda disse a famosa frase “o preconceito está na sua cabeça”.
Não, se você teve uma atitude preconceituosa, então o
problema está na sua cabeça. Pode ser inconsciente, pois o racismo é uma estrutura
soterrada durante os séculos como se fosse o normal.
Mas o racismo na escola acontece de formas bem mais sutis
também. Um dos mais fortes é o “lápis cor de pele” que na verdade é o rosa
claro. Toda aula eu tenho que desconstruir esse conceito que em algum momento
foi ensinado na escola ou pelos pais da criança que a cor correta da pele é um
rosa que só é parecido com a pele de porco.
Não basta só pegar um livro que “fala” sobre um problema que
o racismo criou para os pretos, para dizer que está trabalhando o assunto. É preciso
estudar, pois os privilégios da branquetude e o racismo é um problema dos
brancos também. Infelizmente, nossos professores não tem tempo pra isso
estudar...
E você professor negro, não pode ser um alienado que
reproduz o discurso racista e acha que apontar o preconceito é “mimimi”. Essa sensação
ruim que você sente na boca do estomago e na garganta não some quando você vira
a cabeça e fecha os olhos diante de assuntos racistas.
E professores brancos, não basta pegar uma atividade em que
a criança é coadjuvante, e que é toda feita por mãos adultas, (ou nesse caso, a
mão adulta não entendeu nada e ainda injeta preconceito nas crianças), colocar
o título de um livro sobre a atividade e pronto “está cumprindo a lei e o papel
de educador”. Não está.
Não, nosso cabelo não é Bombril, nosso cabelo não é duro e
nem feio, sujo ou desarrumado. E não é raro uma criança preta sofrer
preconceito por funcionários, professores e seus colegas, por conta do racismo
e dos padrões de beleza brancos impostos. A ponto de exigir alisamento, tipos
de penteados que só ficariam bem em cabelos lisos, para que? Qual o fundo
didático, em que essas regras e exigências racistas buscam trazer de positivo
para o desenvolvimento da criança? Geralmente nada.
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